quinta-feira, 10 de março de 2011

Sessentões: old is beautiful

Antonio Vidal Filho
(Ex-executivo de RH, Consultor, integrante do GERH)

Somos cerca de 22 milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade. Desses, cerca de 6.5 milhões ainda trabalham, por várias razões. Trata-se de um contingente impressionante, muitos deles com invejável formação, fluência em idiomas, experiência acumulada em diferentes culturas.

Seguramente, nesse grupo há um vasto bolsão de experiência e talento disponível a ser ainda aproveitado. Afinal, todo dia se noticia a carência de alguns tipos de mão-de-obra especializada, visto que o Brasil não formou pessoal técnico e líderes em quantidade suficiente para atender a demanda que está sendo noticiada.

Com certeza, muitos dos que alcançaram essa senioridade estão disponíveis e dispostos a reingressar no mercado de trabalho e contribuir por mais algum tempo, retribuindo o que receberam em treinamento e enriquecimento, pela exposição a situações profissionais ao longo de suas carreiras.

Evidentemente, para que isso aconteça, será necessário resolver importantes equações que aparecem dos dois lados. Do lado da empresa, a imagem que ela tem dessas pessoas e de quais são as oportunidades de aproveitá-las. Do lado dos sessentões, o que têm a oferecer às empresas, o que querem fazer e a título de que (sobrevivência financeira? ocupação produtiva do tempo? etc.)

Não se trata de equações simples e, por isso, devem ser encaradas de maneira séria e concreta por pessoas e instituições. O aumento da longevidade está sendo acompanhado pelo encurtamento do tempo de carreira corporativa. Mesmo contra a vontade, bons profissionais deixam as suas carreiras mais cedo e passam a enfrentar um longo período de aposentadoria precoce e forçada longe de se sentirem incapazes de continuar a contribuir e, na maioria das vezes, precisando trabalhar para complementar suas rendas.

Não é por nada que a mídia tem dado atenção a esse tema abordando-o, antes de tudo, como sinal de alerta para o executivo que está prestes a se aposentar. Em outras oportunidades examina casos de sucesso, particularmente de profissionais de altíssimo escalão, que não servem de exemplos estimulantes para a grande maioria dos aposentados.

Sem dúvida, é oportuníssimo alertar o executivo ativo para que prepare com cuidado a sua aposentadoria (poupança, saúde, ocupação pós-carreira), mas hoje já há um contingente impressionante de pessoas que tendo ou não se preparado, estão necessitando e pensando no que e como fazer. É exatamente sobre esse grupo de pessoas que a preocupação se estende.

É necessário refletir, antes de mais nada, sobre o que as empresas podem ainda querer dos nossos sessentões. É evidente que não se fala de fazer, novamente, um percurso de carreira, pois, são pessoas que já encerraram seu ciclo clássico de vida corporativa. Melhor pensar em reinventar a contribuição possível desses seniores. É difícil imaginar que, com toda experiência adquirida, não possam ser úteis de alguma forma.

É provável que, nestes tempos, a imagem do sessentão esteja menos positiva. Com certeza, há os dinossauros que preferiram a zona do conforto ao longo dos anos. Deve haver desatualização tecnológica, desadaptação às formas de comando e de relacionamento interpessoal, principalmente com as novas gerações. Mas há também, da parte da empresa, a atitude aparentemente preconceituosa, o que é uma terrível pena, quando se estabece idade de 40 ou 45 anos como limite para os cargos de maior responsabilidade.

Do ponto de vista do sessentão, muito raramente existe a pretensão de refazer carreira. As razões que o levam a trabalhar são várias, além da necessidade de renda: dar sentido à vida e viver dignamente, preservar a saúde física e mental com atividades variadas, transmitir conhecimento e ajudar pessoas, entre outras tantas. Enfim, apesar do vigor da juventude estar menos presente, não há desejo de bancar o “general de pijamas”.

O sessentão tem características que deveriam ser consideradas como importantes para se examinar a sua inserção no mercado de trabalho. É próprio de sua faixa etária o equilíbrio emocional e a capacidade de examinar situações conflituosas com serenidade. A diversidade faz parte de seu repertório pessoal. Seu pacote de experiências lhe permite comparar situações racional e produtivamente e, assim, buscar soluções interessantes, apropriadas e, muitas vezes, inusitadas.

Longe de se querer lançar movimentos pró-sessentão, tipo “old is beautiful”, parecendo uma tentativa de captar atenção para uma minoria desvalida, é fundamental que se veja o sessentão, o sênior, com a vontade e o desejo de fazer o que há de melhor para as instituições e, claro, para ele.